Calma, vamos entender essa frase antes de sairmos a falar aquilo que achamos que entendemos.
A vida está constantemente destruindo as imagens que você cria de você.
Se você, como a Flávia, se acha um ótimo cozinheiro, com anos de experiência, tão bom que tira fotos e compartilha suas aventuras culinárias e, veja bem, se depara com isso:
Pois bem, você, grande chef recusará esse pão, como sua obra, pois ele não se encaixa na imagem que você construiu para si mesmo. Principalmente depois de ter recebido inúmeros elogios sobre seus pães e desfrutado de algumas horas de devaneio e prazerosa imaginação sobre seus poderes e possibilidades e êxitos na arte de fazer pão.
O pão, este pão acima, fere a imagem que você construiu.
Então, você pode rastejar na dor da perda da sua imagem, culpar algo ou alguém por sua falha, criar planos mirabolantes de aperfeiçoamento, e etc. Sim, claro que você — ou melhor, a imagem de você — pode criar tudo isso para não morrer, para não ser destruída pela simples realidade do que é.
Mas será possível vivermos com o fato? O fato de que a Flávia não é uma boa nem uma má "padeira".
Perceba a sutileza de como nos enganamos: atribuímos nossos supostos "êxitos" à nós mesmos, ou melhor, a tal imagem, e sofremos com nossos supostos "fracassos", fracassos, claro, daquela imagem.
Imagine, novamente a Flávia, acumulando em sua memória elogios de sua fantástica "inteligência" até o momento em que essa "inteligência" fracassa. Ela, a Flávia, cultiva essa imagem, e portanto, sente a dor dessa perda como o padeiro orgulhoso de sua técnica sente a dor da sua falha.
Veja bem a que lugar interessante podemos chegar. De um lado vamos usar, correndo o risco de novamente sermos mal compreendidos, a palavra autoestima. Essa palavra, tão positivamente usada é, se formos de fato sinceros, vaidade e orgulho. Afinal, porque a Flávia haveria de sentir algum tipo de estima por si mesma ao fazer um pão? E, aqui pode residir o motivo da nossa queda: ao cultivar uma determinada estima pessoal, não estará nesse movimento, a Flávia, intrinsecamente cultivando do outro lado da moeda, a baixa autoestima? Pois quando o pão falha, a inteligência fracassa, a imagem do espelho não corresponde, pronto, lá estamos nós mergulhados em nossas penas de nós mesmos, lamentando e chorando pela perda de nossos bonecos imaginários de nós mesmos.
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