Você é uma garrafa cheia de rótulos.
Teu conteúdo está etiquetado.
Você está preso.
Já esqueceu quem é.
Acredita que os rótulos te definem.
Quando eu digo que sou, me aprisiono numa caixinha.
Quando eu digo que gosto, perco toda a diversidade do não gosto.
É esse medo do desconhecido que me captura.
Estou tão acostumada com minha gaiola que já não sei voar.
Não tem ninguém pra me cortar as asas, a gaiola eu mesma construo.
A cada dia acrescento uma nova grade.
E vai ficando apertado, vai ficando insuportável.
E aí vem a tensão, vem a doença, vem o medo.
Medo de perder, medo de deixar de ser.
E tudo isto por conta de um eu.
Esse eu tantas vezes repetido, esse eu.
Esse eu que não sou eu.
É que eu não sou, entende? É que não existe eu.
A vida é movimento, transformação constante. O
corpo muda, os gostos mudam, os hábitos mudam, os pensamentos, amores...
E o que sobra disso tudo?
Se tudo é passageiro, o que sobra?
Hoje eu descobri que eu não sou.
Simplesmente, não sou.
Só estou. Estou isso, estou aquilo.
Estou caminhando.
Tudo é mutável. E eu também.
Nessa qualidade de mutação, este eu rotulado se dilui.
Abandono as etiquetas, algumas tão antigas que nem sei de onde vieram.
Outras eu mesma colei.
E assim criei uma identidade.
Mas pra que tudo isso mesmo?
Pra que definições?
Eu quero é sair dessa caixinha, a vida é tão maior do que isso.
Quero desfrutar de mares, oceanos e continentes.
Tudo isso no momento presente.
Sentindo a vida embaixo dos meus pés, pode ser na grama, no piso do apartamento, no ônibus ou no cimento.
E agora vem a pergunta: quem é o eu que quer se livrar do eu?
Sou o cachorro correndo atrás do próprio rabo.
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