Pular para o conteúdo principal

A Trajetória da Salvação

Brotos de Girassol

Não, calma, eles não vão virar sabonetes. Mas eles são parte, deveras importante, da produção de sabão. Sim, eles são alimento. Alimento para o corpo da tal saboeira que, veja só, além de fazer sabão, também escreve, respira, come, pensa e ó, como pensa essa menina. Eles são parte de uma trajetória que começou, bem, começou quando a Flávia nasceu. A Flávia nasceu, respirou, comeu, andou, aprendeu a nadar, a escrever, a falar. Tudo bem direitinho, como mandava o figurino à época. Como todos nós fazemos, por mais que desejemos pensar o contrário. E, em determinado momento na trajetória da vida da Flávia, quando ela já tinha pra lá de um par de décadas, surgiram os brotos de girassol. Calma, eu explico, não vá tomar tudo ao pé da letra, mas tampouco vou lhe ajudar muito a vida, leitor. Não vou mastigar tudinho, é preciso que você acompanhe o nosso pensar.

Em determinado momento, a Flávia se deparou com algumas ideias, um conhecimento novo que, gradativamente, foi modificando suas atitudes para com a vida que lhe cercava. Poderíamos sintetizar em uma palavra: questionamento. Assim que ela passou a questionar a pasta de dente que usava, a carne que comia, o refrigerante que bebia, a pílula que tomava, a roupa que vestia. E ela questionava pois recebeu determinado tipo de informação sobre isso tudo. Era o flúor pra lá, o açúcar pra cá, o transgênico acolá... E surgiam novas palavras no seu vocabulário: sustentabilidade, permacultura, reaproveitamento, desapego, ecovilas, feminismo, alimentação consciente, cosméticos naturais... E surgiu também o broto de girassol, ele entra aqui, eu disse que ele era importante. Junto com ele também surgiu abandonar tudo quanto produto sintético recheados de derivados de petróleo, alergênicos e possivelmente cancerígênos. E chegaram o desodorante natural, a pasta de dente de juá, a babosa pro cabelo, o óleo de coco pra pele, o óleo essencial para cheirar. E de repente, veja só, cá está ela a brincar de fazer sabão.

Tudo muito novo, tudo muito bonito, um ideal e tanto para se buscar viver.

Hoje, tudo isso, talvez, já não seja tão novo assim. Realmente, trata de uma reação bastante lógica ao observar, de fato, o ambiente que nós humanos criamos para nós mesmos. A nossa busca, os nossos desejos, aquilo que nos move. Tudo isso vem acontecendo desde que Adão saiu do paraíso. (Não citarei a Eva para evitar críticas.) E que filhos esses dois tiveram! Belos exemplos do que estaria por vir. E se você não conhece a história de Caim e Abel, bem, assumirei que não estudou num colégio de freiras. E aqui, reconhecendo o risco de ser apedrejada em praça pública, ou o seu equivalente contemporâneo, ser chamada de direita, não acho, não, não senhor, não é o capitalismo o "mal dos nossos tempos". E perdão, senhor ou senhora por lhe dizer isso, assim tão na cara; mas já que você chegou até aqui, lhe ofereço a minha verdade. Não acho que brotos de girassol salvarão o mundo. Ou que limparei toda a sujidade da humanidade com sabão natural. E então, assim, com tudo esclarecido em panos limpos (limpos com sabão natural), a Flávia vai jantar brotos de girassol depois de uma longa tarde de produção de sabão. E novidades vem por aí.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Top 20 Casinos Near Me - Casino City - Mapyro
    Top 20 Casinos Near Me · Casino City · Fairfield 울산광역 출장샵 Inn & Suites by Marriott International · 경상북도 출장샵 Piedmont 시흥 출장마사지 Park 여주 출장마사지 by Wyndham Council Bluffs · Casa Valley by Wyndham Council 영주 출장샵 Bluffs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

quando começa?

Por onde começar? Começa pelo começo grita o papagaio que mora na minha cabeça. Mas onde é o começo?, pergunto. E o papagaio se cala. Afinal, ele só sabe repetir um punhado de frases prontas. O papagaio aprendeu que tudo que tem um fim tem um começo. O papagaio sabe que aquilo que nasce está fadado à morte.  Mas será possível a existência de algo que não tenha fim nem começo? É nos possível capturar o primeiro instante do surgimento de algo?  O que é nascer, o que é morrer? O que é o começo, e o que é o fim? Estamos nos últimos dias do ano de 2016. O papagaio aprendeu que isso é o fim de um ciclo, e o início de outro. Entretanto, quando o papagaio despertar na manhã do novo dia, ele continuará sendo o mesmo velho papagaio repetidor de passados, repetidor dele mesmo.  Para o papagaio não há fim, e portanto não há começo.

Eu sou um sujo espelho que reflete você.

Há algo em mim que não seja simples repetição? O que chamo de eu, é essa vida condicionada, esse amontoado de imagens projetadas. Todo o movimento é mecânico, não há nada novo, não há eu, sou, unicamente, um amontoado de gentes com suas esperanças, medos, desejos, vontades, prazeres. Sou um nada, uma nulidade, um zero. Nada há de novo aqui. J.Krishnamurti - 4º - Sobre a criação de imagens - "A Transformação Homem" Porque os seres humanos vivem da maneira que vivem? Pode o ser humano permanecer psicologicamente sozinho? A principal razão de os serem humanos não realizarem uma radical transformação é o medo de não serem parte de um grupo (sentido de pertencimento). K. diz que só a partir dessa solitude pode-se cooperar. Diz Bohm que antropólogos perceberam que nos povos primitivos o sentido de tribo era muito forte, existe a segurança psicológica de estar na tribo. Quando se é tirado do grupo, a pessoa se sente perdida, pois já não sabe quem é. A maior punição que u

A Vida está constantemente destruindo você

Calma, vamos entender essa frase antes de sairmos a falar aquilo que achamos que entendemos. A vida está constantemente destruindo as imagens que você cria de você. Se você, como a Flávia, se acha um ótimo cozinheiro, com anos de experiência, tão bom que tira fotos e compartilha suas aventuras culinárias e, veja bem, se depara com isso: Pois bem, você, grande chef recusará esse pão, como sua obra, pois ele não se encaixa na imagem que você construiu para si mesmo. Principalmente depois de ter recebido inúmeros elogios sobre seus pães e desfrutado de algumas horas de devaneio e prazerosa imaginação sobre seus poderes e possibilidades e êxitos na arte de fazer pão. O pão, este pão acima, fere a imagem que você construiu.  Então, você pode rastejar na dor da perda da sua imagem, culpar algo ou alguém por sua falha, criar planos mirabolantes de aperfeiçoamento, e etc. Sim, claro que você — ou melhor, a imagem de você  — pode criar tudo isso para não morrer, para não