Pular para o conteúdo principal

Sobre soda, sabão e ignorância.

Frutos da Saponária
Há muito tempo atrás, muito tempo considerando o ponto de vista de quem vos escreve, estive em relação com uma planta chamada Sapindus saponaria. Fazia parte das alternativas ao uso de detergentes de lavar roupa (sim queridos amigos, a grande maioria dos produtos disponíveis no mercado são detergentes, mas conversamos sobre isso em outro momento). E, como vivemos num período de diminuição das fronteiras “virtuais”, deparei-me com o uso do seu fruto nas máquinas de lavar roupas européias. Recomendava-se colocar algumas dessas bolinhas num saquinho, usar a máquina de água quente e pronto! Maravilha das maravilhas! Quem diria. Toda empolgada, achei que tinha inventado sei lá, o pastel de carne moída. Qual foi a minha decepção, decepção digamos pra minha vaidade, ao descobrir que vivi boa parte da minha vida vizinha de uma árvore dessas; resumindo, tinha no quintal da minha mãe. Ela conhecia como sabão de macaco, coisa de infância ela dizia, e, diante do chão do quintal recheado de bolinhas, fomos experimentar. Afinal, isso faz espuma mesmo? Sim, faz! Ela contem saponinas que são responsáveis pela formação de espuma. A árvore, aliás, é amplamente utilizada na medicina popular.

Espumando
Mas eu queria era “fazer sabão”, ou melhor, encontrar uma alternativa aos produtos que usava em casa. Munida de muitos dos seus frutos, fui à casa de um amigo para preparar a receita. Tão complicada que necessitava de um “amigo”: bastava ferver as sementes em água. Fervemos, fervemos, espumou e aquela água foi devidamente armazenada. Foi quando, e aqui entra o ápice do enredo, fui apresentada à mãe do tal amigo. Esta contou-me que fazia sabão de abacate com uma amiga quando suas árvores produziam abacates pra dar, vender e fazer sabão. Sabão com soda cáustica, ela me disse. Essa palavra, soada assim nos meus ouvidos, e associada com tudo aquilo que tinha gravado sobre a tal, provocou um choque. Que absurdo!, eu pensei. E, provavelmente, expressei, não com palavras, talvez, mas com uma contração incontrolável de todo o corpo. Na época eu não sabia, e só vim saber (compreender e aceitar) uns bons tempos depois que sabão se faz com soda. E não, não tem outro jeito. Não tem maneira, não é melhor o glicerinado, sabão que é sabão é feito com um composto alcalino seja ele hidróxido de sódio ou potassa cáustica.

Habitaram meu banheiro até
perderem o cheiro
Portanto, é através da memória da experiência da minha própria ignorância que sou capaz de me colocar no lugar do outro e compreender o choque, o horror, o espanto, a aversão, a completa negação quando se é dito que se faz sabão com soda. E o surpreendente, e, talvez não seja tão surpreendente assim, se pararmos para observar como vivemos, é que usamos sabão desde que bem, desde o primeiro banho, ou o segundo, se é que vocês me entendem. Sabonete em barra, sabonete líquido, sabonete de glicerina, xampu, lava louças, sabão de coco, sabão em pó, sabão líquido e os sabões decorados do Snoopy que enfeitavam o meu banheiro, são todos, na melhor das hipóteses, feitos dessa forma. Na melhor, porque na pior e mais frequente, são produtos recheados de componentes sintéticos deveras horripilantes para serem nomeados. Ou, digamos de outra forma, vou estudar e escrever melhor sobre cada um deles num próximo post, ou vários deles.

A boa notícia é que hoje superei meu medo de sabão de abacate. E para minha própria surpresa, acabo de lembrar que há alguns dias fiz um sabão de abacate, extremamente hidratante, que está esperando para ser cortado. Prometo fotos, bolhas e banho. E quem sabe uma mãe de amigo receberá, finalmente, seu merecido pedido de desculpas. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

quando começa?

Por onde começar? Começa pelo começo grita o papagaio que mora na minha cabeça. Mas onde é o começo?, pergunto. E o papagaio se cala. Afinal, ele só sabe repetir um punhado de frases prontas. O papagaio aprendeu que tudo que tem um fim tem um começo. O papagaio sabe que aquilo que nasce está fadado à morte.  Mas será possível a existência de algo que não tenha fim nem começo? É nos possível capturar o primeiro instante do surgimento de algo?  O que é nascer, o que é morrer? O que é o começo, e o que é o fim? Estamos nos últimos dias do ano de 2016. O papagaio aprendeu que isso é o fim de um ciclo, e o início de outro. Entretanto, quando o papagaio despertar na manhã do novo dia, ele continuará sendo o mesmo velho papagaio repetidor de passados, repetidor dele mesmo.  Para o papagaio não há fim, e portanto não há começo.

A Vida está constantemente destruindo você

Calma, vamos entender essa frase antes de sairmos a falar aquilo que achamos que entendemos. A vida está constantemente destruindo as imagens que você cria de você. Se você, como a Flávia, se acha um ótimo cozinheiro, com anos de experiência, tão bom que tira fotos e compartilha suas aventuras culinárias e, veja bem, se depara com isso: Pois bem, você, grande chef recusará esse pão, como sua obra, pois ele não se encaixa na imagem que você construiu para si mesmo. Principalmente depois de ter recebido inúmeros elogios sobre seus pães e desfrutado de algumas horas de devaneio e prazerosa imaginação sobre seus poderes e possibilidades e êxitos na arte de fazer pão. O pão, este pão acima, fere a imagem que você construiu.  Então, você pode rastejar na dor da perda da sua imagem, culpar algo ou alguém por sua falha, criar planos mirabolantes de aperfeiçoamento, e etc. Sim, claro que você — ou melhor, a imagem de você  — pode criar tudo isso para não morrer, para não

Introdução Pessoal (um par de frases)

Biografia (limite de 4000 caracteres) 4000 character limit to biography, four thousands characters to describe what Flavia has been done in the past three decades. 4000 characters, and now 169 already have gone, to make la grafia de la vida, the writing of some life, a escritura da vida. A part of course from all the eating, and breathing, and sleeping in bed, what else worthwile speaking about? Since those everyone have been doing, what's then that make Flavia special? What makes her deserve a second look? Don't you know that she asks herself this same question every morning? And, if you're sincere enought in yourself, wouldn't you ask yourself this same question? Or are we all still believing in the very special kids we are, so different from our classmates, that our mama and papa used to tell us? But then, my friend, perhaps you didn't experience this naive shock yet , the one that will shows you undoubtedly that we are not special at all and our biography